1. Um passo essencial para a ciência psicodélica no Brasil
O avanço das terapias psicodélicas exige muito mais do que entusiasmo científico — requer métodos analíticos confiáveis. Antes de estudar os efeitos da psilocibina em transtornos como depressão ou ansiedade, é preciso saber quanto dessa substância realmente está presente em cada amostra.
Essa precisão é o que garante segurança, padronização e reprodutibilidade nos estudos clínicos e farmacológicos — condições indispensáveis para que substâncias como a psilocibina possam um dia integrar protocolos médicos reconhecidos.
Em 2025, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em parceria com o Biocase Group, publicou um estudo na revista ACS Omega que marca esse avanço:
2. O estudo e seu contexto regulatório
O artigo apresenta o desenvolvimento e a validação de um método cromatográfico (HPLC-DAD) capaz de identificar e quantificar psilocibina e psilocina — os principais alcaloides ativos dos cogumelos do gênero Psilocybe cubensis .
O processo foi conduzido dentro das normas da RDC 166/2017 da Anvisa, que define os critérios de validação de métodos analíticos aplicáveis à indústria farmacêutica. Essa conformidade é um marco, pois o Brasil ainda não dispunha de protocolos padronizados para a quantificação dessas substâncias — lacuna que limitava o avanço de pesquisas clínicas e o desenvolvimento de formulações medicinais seguras.
3. Como funciona o método
O método utiliza a Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC) com detector de arranjo de diodos (DAD), tecnologia presente em laboratórios de controle de qualidade e pesquisa biomédica.
Após otimizações sucessivas, os cientistas chegaram a uma configuração que combina sensibilidade, custo acessível e robustez operacional, possibilitando detectar concentrações mínimas com alto grau de confiabilidade.
Os resultados foram consistentes:
- Limite de detecção (LOD) da psilocibina: 1,58 mg/L
- Limite de quantificação (LOQ): 4,78 mg/L
- Para a psilocina: 1,70 mg/L e 5,17 mg/L, respectivamente.
Além disso, a acurácia e a precisão ficaram dentro dos padrões internacionais — 80 a 120 %, conforme exigido pela Anvisa e pela FDA — comprovando a confiabilidade do método.
4. Resultados e relevância clínica
Ao aplicar o protocolo em extratos de Psilocybe cubensis importados legalmente para pesquisa, o grupo obteve as seguintes médias de concentração:
- Psilocibina: 2,57 %
- Psilocina: 0,16 %
Esses valores estão entre os mais altos relatados em literatura internacional, indicando condições ideais de extração e alta estabilidade do composto principal.
Como a psilocina é mais instável quimicamente, o resultado também reforça a importância de processos laboratoriais controlados e de padronização para garantir segurança em estudos clínicos .
5. Por que esse avanço é tão importante
Medir com precisão é o que transforma uma substância em um medicamento possível.
Sem dados analíticos sólidos, não é possível determinar dosagens seguras, biodisponibilidade ou efeitos terapêuticos previsíveis.
O estudo conduzido pela UFCG e pelo Biocase Group estabelece um marco metodológico: ele cria as condições para que formulações farmacêuticas com psilocibina e psilocina possam ser desenvolvidas no Brasil com padrões internacionais de qualidade.
É um avanço decisivo na construção de uma base científica sólida para o campo da Psicoterapia Assistida por Psicodélicos (PAP), área em rápida expansão e que requer não apenas vivência clínica, mas validação laboratorial e regulatória.
6. O papel do Instituto Alma Viva e do Biocase Group
O Biocase Group vem se destacando como um hub de inovação em saúde mental e biotecnologia psicodélica, atuando desde o desenvolvimento farmacêutico e regulamentar até a pesquisa aplicada e educação científica.
Já o Instituto Alma Viva, braço educacional e clínico do grupo, é responsável por formar profissionais capacitados por meio da pós-graduação em Psicoterapia Assistida por Psicodélicos, aprovada pelo MEC.
Ambas as instituições compartilham a missão de integrar ciência, clínica e educação, construindo um ecossistema ético, seguro e profundamente comprometido com o desenvolvimento humano.
7. Conclusão: o início de uma nova etapa
A validação desse método não é apenas um avanço técnico; é um sinal de maturidade científica.
O Brasil começa a produzir conhecimento próprio e reconhecido internacionalmente sobre substâncias psicodélicas — um campo que, até poucos anos atrás, era restrito a universidades estrangeiras.
Com pesquisas como essa, o país se aproxima de um cenário em que terapias com psilocibina possam ser conduzidas com rigor, segurança e embasamento científico, abrindo caminho para novos tratamentos em saúde mental e para uma formação profissional cada vez mais qualificada.
Referência científica
Galdino, T. P. et al. (2025). Exploring the Frontiers of Psychedelics: A New Chromatographic Method for Detection and Quantification of Psilocybin and Psilocin in Psilocybe cubensis Mushrooms.
ACS Omega, 10, 30695–30707.
Disponível em: https://shorturl.at/gJEYL